quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Reconquista

Por Robson Wellington

Na Escritura Jacó figura como um caso inexplicável de amor da parte de Deus. Contundente foi a declaração do sublime Don Juan: “Amei Jacó”. Perguntamos: “Por quê?” Ou ainda: “O que Ele viu em Jacó?” A resposta é escandalosamente arbitrária: “Nada”. Jacó luta e vence aquele que se deixou vencer. Jacó barganha sempre, mas só ganha quando não tem mais o que barganhar. E continua o Conquistador: “Meu coração está comovido dentro de mim, as minhas compaixões, à uma, se ascendem”. Jacó e tantos outros saltam das páginas da Bíblia para a história da humanidade, uma história de seduzidos que deixaram-se seduzir.

Pensar na Conquista é fascinante e mais ainda é pensar na Reconquista. Pensei nela durante todo dia. Você pergunta: “Que Reconquista?” Eu tento responder lembrando do filme “Como se fosse a primeira vez” onde o apaixonado Henry a cada manhã fazia de tudo para que sua namorada Lucy que sofria de amnésia se lembrasse de seu compromisso com ele. Uma Reconquista a cada manhã, sempre com uma nova faceta como se o novo dia fosse uma nova vida, mas com a mesma persistência. Você exclama: “Que estranho!” Sim, sim é totalmente contraditório com a efemeridade dos relacionamentos pós-modernos. Uma Reconquista perigosamente subversiva a essa conexão interminável de pensamentos e vivências breves e intensas, mas inegavelmente superficiais.

Como dizia o velho provérbio daqueles que contraem a moléstia chamada Jesus e jamais são curados, sempre Reconquistados. Como aquele que pegou a sua herança, foi embora, gastou tudo e não quer um outro lugar, não quer uma outra pessoa, não quer uma outra coisa. Quer a mesma casa. Quer o mesmo abraço. Quer o mesmo desatinado amor do Pai renovado a cada manhã. Ali onde o que vale não é a sua pecaminosidade, mas a generosidade daquele cuja poderosa graça transformou seu coração, colocou seus joelhos diante de si e o salvou do abismo. Eternamente.

Como o movimento cristão da Reconquista que recuperou as terras perdidas para os árabes durante a invasão da Península Ibérica. Ali onde qualquer noção de escolha democrática precisa ser esquecida. Falo de guerra, de ocupação. Déspota é o nome Daquele que chamo de Senhor! Minhas crises, estruturas e formulações não alcançaram as montanhas das Astúrias. Havia resistência. E essa estrategicamente esperou São Tiago aparecer com seu exército. Com o toque de trombetas e desfraldação de bandeira, como aqueles territórios, também fui Reconquistado! E porque Ele me amou posso confessar que mais uma vez: “As minhas entranhas estremeceram por amor dele”.

A Ele a glória!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tsaka Moçambique!

Por Robson Wellington*

Pisei no solo arenoso e avermelhado de Maputo (capital de Moçambique) na manhã do dia 16/04, pouco mais de três anos depois do projeto missionário de um mês que participei aqui e que marcou profundamente a minha vida. Esse interlúdio foi marcado por muitas crises e transformações, mas voltar a esse lugar, cumprindo aquilo que Deus colocara em meu coração, mesmo com todas as coisas cooperando para o contrário, resignificou muitas coisas em mim. Aqui consegui captar harmonia e integralidade na bela e paradoxal dança entre o Robson atual, mais conhecedor de si mesmo, de suas fraquezas e limitações e o Robson de 2006, um visionário movido por uma paixão incendiante.

Olhei para as ruas sujas e cheias de lixo dessa cidade, para os chapas (vans) velhos e lotados, para os moçambicanos com seu jeito, seu cheiro, seu sotaque e concluí que realmente amo essa gente e esse lugar de uma maneira muito especial. De alguma forma Deus olhou para eles através de mim e pra mim através deles. A angústia que antecedeu a minha partida do Brasil deu lugar à alegria da minha chegada em Moçambique. Chesterton disse algo interessante: “O pessimismo é na melhor das hipóteses, um meio-feriado emocional; a alegria é a ruidosa labuta pela qual vivem todas as coisas”. Aprendi que para o bem do ser e saúde da alma, que a alma não cresce sem dor, e não se mantém sem alegria. Isso me enche de esperança!

Fui muito bem recebido e acomodado temporariamente pelos amigos que fiz em 2006 e pelo diretor nacional da Cruzada. E Deus já providenciou uma moradia definitiva numa boa casa. Mesmo com o atraso na minha chegada consegui me matricular na universidade e já estou freqüentando as aulas nas terças e quintas, conhecendo um pouco mais da história desse país e me conectando com estudantes e professores.

O Movimento Estudantil Alfa e Ômega aqui se chama Movimento Impacto Estudantil (MIMPE), existe desde 2001 e é fruto de projetos missionários realizados pelo Alfa e Ômega do Brasil. Passei essas primeiras semanas me familiarizando com o MIMPE, estudando o planejamento anual, conversando e orando com os estudantes-líderes, além de participar das atividades no campus. O movimento tem muitos desafios, entre eles, o importante processo de transição de liderança. Os líderes atuais estão se formando e uma nova liderança precisa ser levantada para prosseguir com o trabalho. Estou acompanhando de perto esse processo. Fui designado para trabalhar na área de discipulado. Vou mentoriar os novos líderes, coordenar os pequenos grupos de discipulado, além de liderar o meu próprio pequeno grupo que deverá ser modelar. No último final de semana ocorreu com muito êxito um evento de conexão com os estudantes alcançados nas palestras evangelísticas para calouros no início do semestre e compareceram mais de 30 estudantes!

Acredito muito no potencial que o MIMPE tem para ajudar a alcançar essa geração para Cristo, glorificando a Deus nessa nação. Eu oro para que meu trabalho durante esse ano contribua positivamente nesse sentido. Tudo está correndo muito bem até agora e me sinto literalmente agraciado. Quero agradecer as orações, ofertas e e-mails de encorajamento.

Adotei a frase “para que Moçambique se regozije na glória de Deus” como declaração de propósitos da missão que tenho pela frente e desde já estou proclamando: Alegre-se Moçambique! Em changana (dialeto local): Tsaka Moçambique!

Forte abraço!

* Carta enviada para meus parceiros ministeriais.