sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Estou voltando...

Olá queridos!

É difícil acreditar que estou terminando o meu tão sonhado "ano em Moçambique"! Essa semana tem sido um tempo de despedidas e as pessoas tem compartilhado sobre diferentes olhares e memórias da minha passagem por aqui. Como é bom receber esse feedback!

Meu coração está cheio de gratidão pela oportunidade de servir como missionário no MIMPE (Movimento Impacto Estudantil), pelos encontros de evangelismo, pelos relacionamentos de discipulado, pelos treinamentos, pela expansão do Movimento em universidades de outras províncias, pelas viagens com o Projeto Filme Jesus. Perceber o enorme impacto que a proclamação do Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo tem sobre diferentes pessoas, lugares, gerações e culturas é fascinante.

Estou grato pela oportunidade de estudar História da África na UEM (Universidade Eduardo Mondlane), pelas pesquisas no Arquivo, pelos professores que tornaram-se amigos, pelos colegas que tornaram-me o xodó da turma rsrs...

Dias de realizações, dias de frustrações, ânimo, desânimo, entendimentos e desentendimentos... Enfim, vivi meu "ano em Moçambique"! E valeu a pena. Faria tudo outra vez.


Engrandecê-lo-ei com ação de graças. (Salmo 69:30)



Quero agradecer a todos que oraram, investiram e acompanharam de perto esse importante tempo da minha vida. Vocês fazem parte desse sonho real! Peço que continuem orando por Moçambique, esse país tem muitos problemas, mas também muitas oportunidades. Justiça, paz e alegria do Rovuma ao Maputo! Como diz o grito do poeta: Arrebenta, país da marrabenta! hehe...


Porém, o verbo, que é Espírito

fez-se poesia e habitou entre nós,

cheio de charme e verdade...

Vimos então um novo céu e uma nova terra,

em momentos-aqui-e-agora-repletos-de-eterna-paixão,

gestando um novo tempo

pois, que grávidos do Espírito-que-sopra-onde-quer,

começamos a resgatar a palavra inventiva,

a simbologia criativa,

e curtimos com absoluta beleza

nossa provisória certeza.

A gente voltou a sorrir como jamais

"o mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz".

(Carlos Alberto Rodrigues Alves)



É galera, estou voltando!!! haha...


Na graça,

Robson Wellington

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Paz no coração

Por Robson Wellington

Compartilhei essa semana no meu grupo de discipulado a respeito de “pecado”. E como foi difícil tratar sobre um tema tão disputado pela religião dentro das pressuposições da revelação e da fé! Geralmente, o tema é abordado focando em “pecados” como maus comportamentos, ou seja, naquela velha lista do que podemos e do que não podemos fazer, na guarda da lei e da neurose culposa. Nada é mais fácil e comum do que alimentar o nosso carnal apetite por juízo sobre o próximo e auto-justificação diante de Deus. Por outro lado, é raro e difícil uma abordagem sobre “pecado” que explore a complexidade do décimo mandamento sobre a cobiça, com toda sua interioridade e intencionalidade, e pouco se fala sobre “errar o alvo”, “morte espiritual”, “alienação”, “separação” e “contradição”. Infelizmente, a maioria das abordagens sobre “pecado” levam muito pouco em consideração o ensino e a vida do único Sem-pecado. Em Jesus vemos “pecado” como indisposição e incapacidade de amar verdadeiramente a Deus, ao próximo e a si mesmo. Nesse sentido o “pecador” é totalmente inafetivo. A hipocrisia, a presunção, a arrogância, a justiça própria e a autoconfiança erram o alvo, matam a alma, contradizem, alienam e separam o homem de Deus. Nesse sentido o “pecador” é aquele que confia nos resultados de sua lei, moral e religião, e contra tudo e todos (inclusive a si mesmo) tenta tirar o cisco do olho do outro, sem retirar a trave do seu. Resumindo, podemos dizer que o foco é o “pecado” (absoluto) e não os “pecados” (relativos). A questão não é eventual, e sim ontológica.

No romance Angústia, de Graciliano Ramos, o narrador e personagem Luís, faz justiça com suas próprias mãos, como um coronel ou cangaceiro do sertão, e acuado por pressentimentos apavorantes, sente a necessidade de compartilhar sua experiência solitária e infeliz, então, escreve uma sentença judicial autopunitiva, anterior à justiça dos homens, transformando-se em carrasco de si mesmo. O romance aparentemente catastrófico – composto de longas passagens obscuras do passado recente e estilhaços esclarecedores do passado remoto, busca cadência e harmonia pela função de ligadura emprestada às partes, mas as boas intenções da ficção se contrastam com a brutalidade do real, onde tudo aponta para a frustração e solidão do ser humano, e assim, o único acesso à vida digna é condicionada pela boa sorte na loteria. Vejo nesse romance o problema do “pecado” seguido da ação humana (religiosa e moralista), e até a possibilidade da ação de Deus. Ah, quem dera que todos percebessem que o Cristo é a ligadura, é a conjunção, é o nosso bilhete premiado!

O “pecado” não me surpreende, porque acredito que esse é um dos poucos pontos da doutrina que pode ser provado empiricamente. Não é necessário edificar nenhum monumento para a depravação das afeições humanas, porque basta lançar os olhos para qualquer pessoa, em qualquer lugar para se comprovar o terrível fato da reprodução do “pecado” em natural cumplicidade com nossos antepassados. Na verdade, o que me surpreende é a ênfase no “pecado” – pior ainda, nos “pecados” – em detrimento da ênfase na reconciliação e paz. A ira de Jesus não foi derramada sobre os publicanos, beberrões, prostitutas, pobres, cegos, aleijados, vacilantes, imperfeitos, confusos, equivocados e diferentes, mas sim sobre os religiosos e politicamente corretos do seu tempo, revelando que para Ele nada é mais pecaminoso do que as falsas e malignas noções de justiça e espiritualidade, com seu deliberado desprezo, rebelião e relativização em relação ao favor gratuito de Deus concedido aos pecadores arrependidos. Quando alguém mantém uma sadia relação com o Sagrado, ela torna-se santa e bela, pois aprende a humildemente descansar na graça e a exalar o seu bom perfume, por outro lado se essa relação com o Sagrado funda-se na justiça própria, orgulho e hipocrisia, nada se torna mais doentio e mortal. A História testemunha essa triste verdade abundantemente. Quantas atrocidades já foram cometidas em nome de Deus pelas religiões? Será que vamos continuar queimando as coitadas das bruxas por seus “pecados” para mascarar e atenuar nosso “pecado”?

Espero que ao invés disso, seja proclamada em alto e bom som, a Boa Notícia de que em Jesus a corrente de causa e efeito foi quebrada e, somos incondicionalmente e imerecidamente amados, perdoados e justificados. Nele o antônimo de “pecado” é a graça, e não a virtude humana. Ele fez tudo, absolutamente tudo o que era necessário para reconciliar o homem com Deus, e agora nada e ninguém pode nos separar dEle. Sim, esta é a Boa Notícia que declara paz, paz aos que estão perto e aos que estão longe. Uma paz que excede a todo entendimento e não é dada como a que o mundo dá. Precisamos nos questionar e responder para nós mesmos: Estou reconciliado com Deus? Estou com o coração pacificado? Estou confiando e dependendo de Jesus como a minha única tábua de salvação? Como é raro encontrar gente com o coração pacificado! Onde estão aquelas pessoas inteligentes que sabem que são estúpidas e aqueles discípulos honestos que sabem que são canalhas? Precisamos conviver da melhor forma possível com o fato da impossibilidade de bondade e perfeição absoluta. Como é difícil encontrar gente que conhece a Deus de modo que sobe aos céus e Ele está lá e que desce ao abismo e Ele também está lá! Oxalá, que todos soubessem que se supera o “pecado” – ou seja, a inafetividade, a alienação relacional – com um ato de confiança na total aceitação de Deus! “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”. Só assim, percebemos a tolice do esforço para obter o favor de Deus, para garantir valor próprio e da pressa competitiva para chegar na frente dos outros, acolhendo a revolucionária verdade de que nada pode fazer Deus nos amar mais ou menos fora de Sua livre e boa vontade. Reconhecer nossa falência é a nossa salvação e a Sua exaltação.

“E o Deus de paz seja com todos vós. Amém.”

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Almas Irreverentes

Por Eliel Moura

Ontem almas irreverentes me assombraram. Fizeram-me caminhar algumas distâncias de olhos vendados, de modo que me movia tateando, percebendo as fissuras, tropeçando e tropeçando. A princípio, a batida da minha marcha era o medo, pensava em como poderia me libertar: estava cada vez mais longe de casa. “O que vocês querem? Por que eu? Deixem-me em paz!” O som evasivo das interrogações era levado pelo vento enquanto eu ia seqüestrado.

Eram elementos perigosos, gente com quem, segundo me fora ensinado, não deveríamos nos misturar, com temas pelos quais não nos era lícito inquirir. O Index Prohibitorum da biblioteca estava ali e eu constrangido, sem entender bem de que forma poderia sobreviver aquele contato. Ali percebi com nitidez o fracasso do senso comum religioso, que se apóia na falsa idéia de proteção: nada mais do que negligência, alienação. “O que fazer agora? Não foi uma escolha estar aqui, simplesmente me raptaram, faço o que? Não, não me peça pra ficar sentado ‘numa poltrona no dia de domingo’”...

Corre o risco um refém de afeiçoar-se por seu capturador, no que alguns psicólogos denominam Síndrome de Estocolmo. Seja eu mais uma vítima desta patologia ou não, a verdade é que meu coração é Dele! Daquele que me laçou e me conduziu aos desertos. O único que não se intimidou, que não confundiu minhas dúvidas com minha devoção ou minhas inquietações com minha fé. Ele e seu bando, apanhando pessoas, arrebatando corações, esta é minha gente...

Hoje almas irreverentes me abençoam. Revelam-me a graça de se andar na penumbra, percebendo os detalhes com os sentidos latentes, tropeçando e tropeçando. Sinto falta de casa, mas o dia a dia me mostra que quem faz o lugar são as pessoas, por isto, alivio esta saudade caminhando com Ele e desfrutando de nobres companhias: muita gente da vizinhança... Aproveito também o mistério do lar, para não desprezar aquele que pode vir a ser meu colega de quarto.

O cisma que separava-nos, já não nos distancia mais. Na alforria de vivazes idéias nasce a liberdade de pensar e o convite ao diálogo: “vinde, pois, e arrazoemos”. Deste modo, entre os tons e nuanças, por que enojar os de bandeira arco-íris? Por que se enfadar com os de barba e camisa vermelha e afinal de contas, por que desistir dos descoloridos evangélicos? Chegamos com livre acesso a dimensões celestes em bate papos espirituais e não conseguimos transpassar os muros desta indiferença? Sim, nós podemos!

O encontro com almas irreverentes, ontem e hoje, inspira-me. Desafia-me a ser mais vivo, mais deste tempo, a não profaná-lo com errantes menções a um futuro que virá, já que matamos recorrentemente o hoje vislumbrando o amanhã. Assassinos, assassinos da beleza e do caminho. Focados no fim, nas metas e nos alvos, ignorando o processo. Ah, se entendêssemos que o processo é o alvo! Sim, Ele é o Alfa e o Ômega, mas é também tudo que nos liga do princípio ao fim: Ele é o meio... Pelo qual vivemos e existimos.

As almas irreverentes, saudações e obrigado.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Declaração de fé

Por Robson Wellington

Sou cristão! Tenho confiança em Jesus Cristo em todas as suas dimensões, inclusive naquelas que ainda desconheço. Deus estava nele de uma maneira sem precedentes. Minha confiança se encaixa em minha experiência, intuição e cognição, consola minha depressão, inspira minha esperança e me desafia a viver com sentido e propósito, sem deixar de ser tomado por assombro e encantamento.

Sou cristão! Não apenas porque confio em Jesus como meu “Salvador pessoal”, mas porque confio em Jesus como “Salvador do mundo”. Minha eleição não me confere apenas privilégios, mas também responsabilidades. Visto que foi o mundo, ou a raça que caiu em Adão, foi o mundo, ou a raça, que foi o objeto da redenção de Cristo. O fato de nem todas as pessoas e lugares estarem se beneficiando de todas as maneiras possíveis do amor salvador é o que enche minha vida de paixão e urgência para escrever, evangelizar, discipular e viver como eu vivo.

Sou cristão! Entendo que salvação não é um processo de se dá apenas após a morte, mas também um processo que salva as pessoas para dentro da história, para um dia-a-dia impregnado de eternidade. Creio numa mensagem que não apenas salva o indivíduo de si mesmo, mas que faz isso para o próximo; que não apenas salva o indivíduo do diabo, mas também o salva da demonização da cultura e relações sociais; que não apenas salva o indivíduo do mundo, mas também o envia para salgá-lo.

Sou cristão! Não empurro para além da história as profecias de paz e reconciliação. Confio na mensagem do Reino de Deus que vem a terra, se estabelece entre nós e se faz acessível hoje. O porvir não é algo que se adiciona ao cristianismo, mas é simplesmente o meio em que se move a fé cristã. As cores da aurora de um novo dia esperado tingem tudo o que existe. Vejo o mundo como um lugar de interdependência, relacionamento, possibilidade, realização, novidade e liberdade.

Sou cristão! Publico na porta da catedral as teses do meu protesto. Não tenho parte com essa mercantilização da fé. Não tenho parte com a religião alienada, desencarnada, moralista, legalista, dogmática e intolerante que encadeia e deforma a idéia de Deus. O evangelho de salvação afirma que Jesus quebrou a corrente de causa e efeito, de ofensa e alienação que nos aprisionava.

Sou cristão! Minha alma perde o jeito de ser em qualquer situação que não seja a presença de Deus. As tendas da perversidade, por mais luxuosas que sejam não me oferecem ninho. Fui profundamente afetado pela graça. Os desertos são atravessados, cavam-se poços e guarda-se água da chuva. Um irmão dá força ao outro e seguimos, rindo da finitude, desdenhando das limitações, resistindo ao sofrimento e tudo isso andando com Deus.

A Ele a glória!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Reconquista

Por Robson Wellington

Na Escritura Jacó figura como um caso inexplicável de amor da parte de Deus. Contundente foi a declaração do sublime Don Juan: “Amei Jacó”. Perguntamos: “Por quê?” Ou ainda: “O que Ele viu em Jacó?” A resposta é escandalosamente arbitrária: “Nada”. Jacó luta e vence aquele que se deixou vencer. Jacó barganha sempre, mas só ganha quando não tem mais o que barganhar. E continua o Conquistador: “Meu coração está comovido dentro de mim, as minhas compaixões, à uma, se ascendem”. Jacó e tantos outros saltam das páginas da Bíblia para a história da humanidade, uma história de seduzidos que deixaram-se seduzir.

Pensar na Conquista é fascinante e mais ainda é pensar na Reconquista. Pensei nela durante todo dia. Você pergunta: “Que Reconquista?” Eu tento responder lembrando do filme “Como se fosse a primeira vez” onde o apaixonado Henry a cada manhã fazia de tudo para que sua namorada Lucy que sofria de amnésia se lembrasse de seu compromisso com ele. Uma Reconquista a cada manhã, sempre com uma nova faceta como se o novo dia fosse uma nova vida, mas com a mesma persistência. Você exclama: “Que estranho!” Sim, sim é totalmente contraditório com a efemeridade dos relacionamentos pós-modernos. Uma Reconquista perigosamente subversiva a essa conexão interminável de pensamentos e vivências breves e intensas, mas inegavelmente superficiais.

Como dizia o velho provérbio daqueles que contraem a moléstia chamada Jesus e jamais são curados, sempre Reconquistados. Como aquele que pegou a sua herança, foi embora, gastou tudo e não quer um outro lugar, não quer uma outra pessoa, não quer uma outra coisa. Quer a mesma casa. Quer o mesmo abraço. Quer o mesmo desatinado amor do Pai renovado a cada manhã. Ali onde o que vale não é a sua pecaminosidade, mas a generosidade daquele cuja poderosa graça transformou seu coração, colocou seus joelhos diante de si e o salvou do abismo. Eternamente.

Como o movimento cristão da Reconquista que recuperou as terras perdidas para os árabes durante a invasão da Península Ibérica. Ali onde qualquer noção de escolha democrática precisa ser esquecida. Falo de guerra, de ocupação. Déspota é o nome Daquele que chamo de Senhor! Minhas crises, estruturas e formulações não alcançaram as montanhas das Astúrias. Havia resistência. E essa estrategicamente esperou São Tiago aparecer com seu exército. Com o toque de trombetas e desfraldação de bandeira, como aqueles territórios, também fui Reconquistado! E porque Ele me amou posso confessar que mais uma vez: “As minhas entranhas estremeceram por amor dele”.

A Ele a glória!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tsaka Moçambique!

Por Robson Wellington*

Pisei no solo arenoso e avermelhado de Maputo (capital de Moçambique) na manhã do dia 16/04, pouco mais de três anos depois do projeto missionário de um mês que participei aqui e que marcou profundamente a minha vida. Esse interlúdio foi marcado por muitas crises e transformações, mas voltar a esse lugar, cumprindo aquilo que Deus colocara em meu coração, mesmo com todas as coisas cooperando para o contrário, resignificou muitas coisas em mim. Aqui consegui captar harmonia e integralidade na bela e paradoxal dança entre o Robson atual, mais conhecedor de si mesmo, de suas fraquezas e limitações e o Robson de 2006, um visionário movido por uma paixão incendiante.

Olhei para as ruas sujas e cheias de lixo dessa cidade, para os chapas (vans) velhos e lotados, para os moçambicanos com seu jeito, seu cheiro, seu sotaque e concluí que realmente amo essa gente e esse lugar de uma maneira muito especial. De alguma forma Deus olhou para eles através de mim e pra mim através deles. A angústia que antecedeu a minha partida do Brasil deu lugar à alegria da minha chegada em Moçambique. Chesterton disse algo interessante: “O pessimismo é na melhor das hipóteses, um meio-feriado emocional; a alegria é a ruidosa labuta pela qual vivem todas as coisas”. Aprendi que para o bem do ser e saúde da alma, que a alma não cresce sem dor, e não se mantém sem alegria. Isso me enche de esperança!

Fui muito bem recebido e acomodado temporariamente pelos amigos que fiz em 2006 e pelo diretor nacional da Cruzada. E Deus já providenciou uma moradia definitiva numa boa casa. Mesmo com o atraso na minha chegada consegui me matricular na universidade e já estou freqüentando as aulas nas terças e quintas, conhecendo um pouco mais da história desse país e me conectando com estudantes e professores.

O Movimento Estudantil Alfa e Ômega aqui se chama Movimento Impacto Estudantil (MIMPE), existe desde 2001 e é fruto de projetos missionários realizados pelo Alfa e Ômega do Brasil. Passei essas primeiras semanas me familiarizando com o MIMPE, estudando o planejamento anual, conversando e orando com os estudantes-líderes, além de participar das atividades no campus. O movimento tem muitos desafios, entre eles, o importante processo de transição de liderança. Os líderes atuais estão se formando e uma nova liderança precisa ser levantada para prosseguir com o trabalho. Estou acompanhando de perto esse processo. Fui designado para trabalhar na área de discipulado. Vou mentoriar os novos líderes, coordenar os pequenos grupos de discipulado, além de liderar o meu próprio pequeno grupo que deverá ser modelar. No último final de semana ocorreu com muito êxito um evento de conexão com os estudantes alcançados nas palestras evangelísticas para calouros no início do semestre e compareceram mais de 30 estudantes!

Acredito muito no potencial que o MIMPE tem para ajudar a alcançar essa geração para Cristo, glorificando a Deus nessa nação. Eu oro para que meu trabalho durante esse ano contribua positivamente nesse sentido. Tudo está correndo muito bem até agora e me sinto literalmente agraciado. Quero agradecer as orações, ofertas e e-mails de encorajamento.

Adotei a frase “para que Moçambique se regozije na glória de Deus” como declaração de propósitos da missão que tenho pela frente e desde já estou proclamando: Alegre-se Moçambique! Em changana (dialeto local): Tsaka Moçambique!

Forte abraço!

* Carta enviada para meus parceiros ministeriais.

sexta-feira, 27 de março de 2009

A comunhão dos santos

Por Robson Wellington

O cabeça de uma casa judaica fazia a mesma oração matinal todos os dias, dando graças a Deus por não ser gentio, nem mulher, nem escravo. Mas os representantes dessas três categorias desprezadas foram remidos e unidos em Cristo no nascimento da igreja em Filipos. O Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos, mas Lucas no relato de Atos seleciona apenas três: uma comerciante chamada Lídia, uma jovem escrava e o carcereiro romano. Creio que essa seleção foi feita não porque eles eram particularmente notáveis, mas sim por demonstrarem como Deus rompe barreiras e em Cristo pode unir pessoas diferentes. Pois verdadeiramente como Paulo escreveu aos Gálatas: “Não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem liberto, nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus”.

Fomos criados a imagem e semelhança de um Deus trino, ou seja, uma unidade que contempla em si diversidade, uma comunhão, uma família, uma comunidade, um permanente conselho de três pessoas eternas que vivem em perfeita harmonia. No entanto, as diferenças entre nós em geral são um fator de distanciamento e não de comunhão. Desde a Queda a convivência dos homens sempre foi um grande desafio. Hoje vivemos num tempo de diminuição das fronteiras físicas e da comunicação, mas também do alargamento da distância afetiva e da comunhão. Infelizmente, parece que temos medo da diferença, da opinião e do jeito do outro. Talvez a gente tenha tanto medo da diferença, porque ela é um forte convite a auto-confrontação e não gostamos disso. O outro é um fator de ameaça. Ele desafia quem somos, ele é um espelho. A voz do outro é um auto-exame. Então, preferimos o conforto da uniformidade.

Muitas vezes os grupos cristãos se tornam um lugar de formatação de pessoas, um lugar que pouco valoriza a diversidade e que não aceita as peculiaridades do outro. A palavra “comunhão” foi esvaziada de significado, representando passeios ocasionais ou lanches e conversas superficiais depois do culto, que pouca ligação tem com a comunhão bíblica que é o compartilhar de vida. Pense, por exemplo, nos grupos que se propõem “interdenominacionais”. Eles são fruto de um enorme esforço unificador, mas em geral, até eles demonstram certa dificuldade de acolher a diversidade, esforçando-se para criar uma linguagem híbrida uniforme e rejeitando certas peculiaridades do outro para a “paz” do grupo. Mas como disse Luis Fernando Veríssimo: “Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza”. A. W. Tozer escreveu: “Na verdade é a variedade e não a uniformidade que é a característica de Deus. Em tudo que você vê a mão de Deus, você vê variedade e não uniformidade”.

No entanto, tenho que admitir que sou muitas vezes pouco gracioso com alguns setores do cristianismo. Trago na bagagem uma série de experiências ruins com o legalismo religioso-moralista. Geralmente, catuco excessivamente alguns irmãos mais parecidos com esse esteriótipo negativo que eu formei, enquanto sou muito simpático com aqueles que estão mais alinhados com a minha maneira de pensar atualmente. É uma fraqueza indesculpável! Crer na “santa igreja universal; na comunhão dos santos”, como está declarado no credo niceno, implica abandonar a auto-imagem de arauto da verdade que quase sempre leva ao rebaixamento de todos os outros cristãos que não se juntaram ao seu movimento. Ser universal (ou católico) significa também ser receptivo e caloroso a todos, sejam reacionários ou reformadores, desde que isso não signifique excluir qualquer outro. Significa alegremente aceitar e receber os pobres, cegos, vacilantes, aleijados, imperfeitos, confusos, equivocados e diferentes, não apenas de uns poucos exclusivos e elitizados.

Quero receber do Espírito Santo a graça de entender que os diversos dons foram concedidos para promover a unidade dos cristãos. Quero repartir o pão na mesma mesa com tradicionais e pentecostais, fundamentalistas e liberais, assim como os filipenses repartiram com o gentio, a mulher e a escrava. É maravilhoso observar como apelo universal do evangelho conseguiu alcançar pessoas tão diferentes e como seu efeito unificador conseguiu juntá-los para formar a nascente família de Deus naquela cidade. Lucas encerra sua narrativa sobre Filipos com uma referência aos “irmãos”. Mais tarde Paulo em sua carta aos Filipenses os exortou a permanecerem: “firmes em só espírito” a pensarem “a mesma coisa”, terem o “mesmo amor” e serem “unidos de alma, tendo o mesmo sentimento”. Como quero ficar maravilhado com a beleza da diversidade da igreja! Que os grupos cristãos sejam um lugar onde cada um não tenha medo que ser o que é, porque sabem que o céu é logo ali e que lá crianças de todas as tribos, línguas e nações brincarão no mesmo quintal, as mulheres conversarão na mesma praça e os homens se banharão no mesmo rio. As diferenças não mais nos dividirão porque o Deus trino será tudo em todos.

A Ele a glória!