Por Robson Wellington
Durante minha infância, meu avô costumava passar o Carnaval conosco. Lembro que ele conseguia ver todo o desfile. O seu sambar era um tímido balançar de pés sentado enquanto acompanhava a transmissão. Ele compartilhou comigo o segredo para ficar acordado por toda madrugada. A cada intervalo ele lavava o rosto. Eu nunca conseguia. Na manhã seguinte ele contava tudo o que tinha acontecido. O mais belo desfile. O carro que quebrou. A escola que perdeu ponto. Herdei dele a torcida pela Portela. Adorava o tradicional cachorro-quente e o samba-enredo tocando bem alto durante todo o dia lá em casa. Como corria de medo do bate-bola na rua! Ah, guardo boas lembranças desses carnavais!
As origens do Carnaval têm sido buscadas nas mais antigas celebrações da humanidade. O ponto de concordância é que eram festas associadas a fenômenos astronômicos e a ciclos naturais. Festa para comemorar a renovação da natureza e espantar os demônios da má colheita. Com o tempo foram inseridos novos elementos como bebidas e sexo. Os cristãos taxaram o Carnaval como festa profana. Na Idade Média, porém, ela foi cristianizada, passando a fazer parte do calendário religioso. Dias gordos onde “carne vale” antecedendo os quarenta dias sem comer carne da Quaresma. A partir do Renascimento, as festas voltaram a incorporar outros elementos e foi se firmando um caráter mais popular. Cada cidade brincava de um jeito, de acordo com seus costumes.
Não tem como negar que o Carnaval é uma forte manifestação da cultura brasileira. Também não tem como negar que os evangélicos em geral tem grande dificuldade de se relacionar com a cultura que os cerca de forma pacífica. Reside nos corações um grande medo de perder a fé ou ser atacado pelo inimigo que sorrateiramente nos espreita atrás de cada manifestação cultural. Já participei de retiros espirituais. Já participei de impactos evangelísticos. E até vivi boas experiências. Respeito profundamente a sinceridade nas motivações de quem participa de uma coisa ou de outra nesses extremos de posicionamento diante dessa festividade. Mas não consigo mais. O sectarismo cultural dos retiros e o imperialismo cultural dos impactos não encontram mais eco em mim.
Algumas pessoas resistem ao Evangelho, não porque o achem falso, mas porque vêem nele uma ameaça à sua cultura, especialmente quanto à estrutura de sua sociedade e identidade grupal. Jesus realmente é um perturbador da ordem. Mas ele também é um pacifista. Há em cada cultura aspectos que não são incompatíveis com o senhorio de Cristo, e que, portanto não precisam ser ameaçadas ou descartadas, mas, antes preservadas e transformadas. Isso requer uma profunda compreensão e apreciação cultural. Infelizmente, preferimos “fechar o corpo” entre as quatro paredes geladas de nossos templos ou sítios ou entrar em guerra espiritual bombardeando uma mensagem alienígena. O resultado é que muito ressentimento é suscitado. A mensagem não é vista como evangelismo, mas sim condenação e imposição de costumes.
Vale lembrar que “é outro o Carnaval que tanto anseio. Não o de salões abarrotados de gritos desconexos nem o de desfiles que disfarçam de luxo a indigência do povo. Quero a alegria d'alma, arlequim bailando em meu espírito, o odor suave da colombina afagando os meus cabelos. Quero a serpentina enlaçando fraternuras e confetes salpicando de estrelas os telhados de meus sonhos. Quero o Rei Momo premiando o meu país de farturas e o corso da alegria atravessando as ruas dos meus passos”. Sonho com o cumprimento da visão da unção maravilhosa da música “Brasileirinho” pelo Espírito de Deus e de centenas de pastores dançando ao som do chorinho. Deixando bem claro que tudo que é belo e bom provêm do Deus que é Senhor sobre toda atividade cultural humana, inclusive o Carnaval.
Homenagem a Deus
Há 6 anos