quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Minhas etiquetas

Por Robson Wellington

Em tempos de franquias gospel, depois de ter percorrido uma longa estrada que começou em comunidades pentecostais e terminou em comunidades reformadas, quero dizer que esse lance de embalagens, rótulos e etiquetas me irritam um pouco - principalmente entre cristãos. Hoje não estou tão disposto a dizer que sou presbiteriano como estive há anos atrás em dizer que era assembleiano, apesar de crer que a autoridade não está na hierarquia e sentir ojeriza quando qualquer pessoa se sobrepõe às demais sem uma correspondente representação.

Calvinista? Pentecostal? Pós-milenista? Ecumênico? Teologicamente conservador? Culturalmente liberal? Sou um pouco de tudo isso e nada disso ao mesmo tempo. Longe de ser esquizofrenia espiritual ou apenas alguma tendência pós-moderna de pluralismo ou relativismo, o que sinto atualmente é uma grande desconfiança nas etiquetas e rótulos que nunca dizem toda a verdade, são objetos de orgulho e causa de tanta competição. Outro grande problema da rotulação é que em geral ela é obtusa, não reconhecendo vida inteligente fora dos limites dos seus arraiais, e eu não desprezo aqueles que pensam diferente. Na verdade, tenho procurado fugir de perguntas como essas que esperam uma etiqueta como resposta. Eu aprecio especialmente o fato de muitas vezes me posicionar sobre nas fronteiras que costumam dividir os cristãos. Assim, num determinado momento todos apontam as armas pra mim e no outro todos me convidam pra cear.

Falando em rótulos e etiquetas, uma delas me persegue atualmente, inclusive aparecendo nos depoimentos de amigos no Orkut: calvinista. Antes de falar sobre essa etiqueta, gostaria de declarar que creio na soberania de Deus. Estou convencido de que as Escrituras ensinam que Deus é soberano não apenas na salvação (efetivamente chamando e concedendo fé aqueles que Ele escolheu), mas também em todos os detalhes da Providência. “Aqueles que Ele predestinou, a estes também chamou; aqueles que Ele chamou estes também justificou; e aqueles que Ele justificou estes Ele também glorificou” (Romanos 8:30). E Ele fez “todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que amam a Deus, isto é, para aqueles que são chamados de acordo com Seu propósito” (Romanos 8:28). Resumindo de modo simples, Ele “faz todas as coisas de acordo com o conselho de Sua vontade” (Efésios 1:11). O Salvador declarou “dou a minha vida pelas ovelhas” e “eu as conheço” (João 10:15,27), sei que “Ele nos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Efésios 2:1) e agora “jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10:28). Se é isso que as pessoas chamam de “calvinismo”, eu até aceito a etiqueta de “calvinista”.

No entanto, vale lembrar que o sistema conhecido como “calvinismo” não teve sua origem em Calvino. Não me comprometo a ser submisso ao homem João Calvino, não ratifico tudo o que ele ensinou e não fecho os olhos a tudo o que fez. E também não me comprometo exclusivamente com nenhuma estrutura ou segmento que se chame por esse nome. Sobre esse mesmo rótulo, Charles Spurgeon costumava dizer que só o utilizava por uma questão de brevidade, estando disposto a chamar as coisas em que ele acreditava por qualquer outra designação que fosse melhor compreendida e desse conta da totalidade dos fatos.

Hoje, diferente de algum tempo atrás, não sou mais um daqueles que usam o “calvinismo”, para desafiar pessoas a lutarem comigo, porque isso já está muito bem resolvido em mim e tenho valorizado muito mais as minhas próprias sínteses, procurando ser o mais textual e contextual possível e o menos sistemático e dogmático possível. Não quero chegar a triste percepção de que "já não me convém o título de homem" do final do poema Eu,etiqueta de Carlos Drummond de Andrade. Os especialistas em marketing dizem que a forma da embalagem pode ser quase tão importante quanto o conteúdo dos produtos. O Evangelho diz que "Deus não vê como o homem; o homem vê a aparência, mas Deus vê o coração". Então, que apenas Ele seja a nossa bandeira.

A Ele a glória!

5 comentários:

Marlon Ribeiro disse...

bom..eu sou Neo-pentecostal..adoro titulos e rotulos e sou preso a todas as estruturas e etiquetas...Robson..para com isso..essas coisas de lutar contra as coisas só piora a vida!!!a vida é tao boa!!devemos viver ao maximo!!!até amigao!!!

Lily disse...

Robson... você sempre escrupoloso para escolher as palavras, não? hehhe

Que bom saber que você está amadurecendo... hehe.. e que tem tirado suas próprias conclusões sobre títulos, rótulos, calvinismo...

Brincadeiras à parte.... mas não adianta! Eles vão sempre rotular! Missionário? Pastor ? Presbitero? Diácono? Evangelista? e por aí vai...

Anônimo disse...

Marlon,

Muito bom! kakaka

Lily,

Nem me fala desses outros rótulos é demais pra minha cabeça. kakaka

Todos,

Fico muito feliz em ter vocês como leitores. Adoro ler os comentários!

Abraço!

Robson Wellington

Anônimo disse...

Vamos lá,

1-Confesso que fui o primeiro a propagar o rótulo de Robson Calvinista!

2-Confesso que me diverti muito fazendo isto!

3-Confesso que não imaginava onde isto ia parar...

4-Confesso que ainda me divirto!

5-Confesso que Robson tem razão!

Eliel.

Robson Wellington disse...

Eliel, seu etiquetadorzinho barato! Eu te arrebento...

Saudações reformadas! hehehe

Robson Wellington